Desenvolvi mas foi para pior. A única sobrevivente deste holocausto foi a esperança e o meu maior erro reside nela. É ela a responsável pela constante desilusão. Espero não sei pelo quê, nem sei por quem. Até sei, mas prefiro não pensar muito nisso, muito menos verbalizá-lo. É como se verbalizando-o tudo assuma proporções maiores e a minha frustração se possa abater sobre mim.
Não consigo reagir. Não consigo nem tento. Porque o tentar já me requer uma vontade que não possuo. Nunca me senti parte integrante deste mundo. Fui sempre a estranha, a outsider, a weird, a pesada, por quem me dei a conhecer melhor. Houve fases em que tentei integrar-me e mais deslocada me senti. Apetece-me contemplar a vida de fora. A dos outros parece-me tão mais interessante do que a minha. A dos outros é muito mais interessante do que a minha. Porque não nasci eu com essa fúria de viver que os que me rodeiam têm? A capacidade que tenho de me fingir integrada é assustadora. E demolidora também. Mas prossigo fingindo. Fingindo que sou alegre, despreocupada, conversadora, compreensiva e interessada. Sempre fingindo... nunca o conseguindo. Já não.
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