No final da tarde deste dia, uma brisa trouxe ao meus lábios o beijo da noite que despertava. Saboreei-o, soube-o o que lhe havias entregue no instante antes de ela adormecer. Fechei os olhos e vi-te numa imagem com linhas, com contornos. Vi no teu olhar cintilante a ternura, senti nas minhas mãos as tuas. Os meus lábios foram aquecidos pelos teus, a minha língua confundia-se com a tua. No meu coração batia o teu, nas minhas pernas entrelaçavam-se as tuas, os meus cabelos escondiam os teus. Tão veemente era o meu devaneio, que filas curvilíneas de água do prazer expelida desciam, corriam pelo meu corpo como um rio para o mar na sua foz. Na minha garganta prendiam-se os gemidos que nossas bocas calavam com beijos intensos. Delirante, num suspiro sôfrego que se soltava, entreabri os olhos e… foste fumo que se soltou do meu corpo levando o prazer que me cobria, levando a tua pele suave, manto que me vestia… Salguei o silêncio perturbador que a escuridão rasgou e implorei-te, implorei-te o teu olhar no meu, a tua voz no meu ouvido, os teus lábios os meus. Não quero, amor meu, não quero a brisa como beijos teus! Não quero a suavidade das pétalas perfumadas de rosas como a tua mão em mim! Não quero o incenso como os aromas cruzados, emanados, inflamados, de nossos corpos! Não quero!! Quero, quero-te real, quero-te amar com as pontas dos meus dedos, com as palmas de minhas mãos, com o entrelaçar de minhas pernas. Quero inspirar o ar que expiras, que o calor do meu rosto seja o teu. Quero os meus braços no teu abraço, a fragrância e a suavidade da tua pele na minha desnuda. Quero a tua língua amante da minha aquando do encontro de nossas bocas. Quero-te no meu corpo, quero-nos um só corpo. Quero-te na candura de nossas almas, quero-as erotizantes. Quero-te, amor meu, quero-te…
Aguardo-te, amor meu, e receber-te-ei como nessa noite, a primeira e única noite em que nos amámos.
A chave do meu coração pousei, delicadamente, no teu, no lugar que sei meu, para que me visites de dia ou de noite, aquando vontade tua que é desejo meu.
Nesta espera em que o tempo não tem limite, em que o espaço não tem lugar, vou-te sonhando e perdendo-me em ti, neste deleite quimérico, neste amor que por ti derramo e em que me sinto amada, majestosamente amada!...
Com um suspiro alegre da minha alma, suspiro que também o sei teu, me despeço, beijando-te.
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